Algumas décadas atrás, os filhos de pais divorciados eram minoria e sofriam com mais frequência de confusão, desorientação e estigma. Hoje é uma realidade mais comum, mas nem por isso mais fácil de assimilar. É por isso que compartilhamos algumas chaves para conversar com seus filhos sobre o divórcio.
Embora seus filhos já conheçam as separações conjugais e as tenham experimentado em seu ambiente imediato, experimentar a mudança em sua própria família será doloroso. A separação afetará a criança e transformará sua vida, mas não precisa ser um evento traumático.
Isso dependerá, em grande parte, das habilidades de comunicação e inteligência emocional dos pais. Saber focar a notícia e transmiti-la adequadamente, além de acompanhar o processo de assimilação, é importante. Se você não sabe por onde começar, essas dicas podem ajudar.
1. Quando falar com seus filhos sobre divórcio?
É relevante não comunicar a notícia aos filhos até que o divórcio seja uma decisão final. Às vezes as dúvidas vêm e vão, e o que parecia uma separação inevitável acaba tendo uma nova oportunidade.
Passar por esses altos e baixos pode ser muito confuso para crianças e adolescentes. Portanto, espere até que você esteja claro em sua posição.
Uma vez decidido, escolha um momento apropriado, no qual você possa ficar sozinho e tranquilo. Mantenha a conversa em casa, pois este é um lugar seguro para eles.
Fale com todos os seus filhos de uma só vez. Elimine distrações, como TV ou telefones celulares, e olhe-os nos olhos. Mesmo mantendo algum contato físico se seus filhos forem muito pequenos.
É muito conveniente que ambos os pais estejam presentes na conversa, que você mostre uma frente unida. Isso dará segurança às crianças, pois elas verão que podem continuar confiando em ambos.
2. O que dizer sobre os motivos do rompimento?
É natural que as crianças queiram saber por que seus pais estão se divorciando. E o mais adequado é responder honestamente, mas com consciência: não perca de vista o fato de que vocês dois são suas principais figuras de apego e referência.
Eles não precisam ouvir culpas, acusações ou reprovações.
Você pode explicar que, neste momento, continuar a ser um casal não é a melhor coisa para você. Que você já tentou fazer o relacionamento dar certo, mas às vezes a convivência e a vida adulta são complicadas, e essa é a melhor decisão para todos.
Leve também em consideração a idade das crianças para adaptar a linguagem e as explicações à sua capacidade de compreensão.
3. Explique como o divórcio afetará sua vida
Ao conversar com seus filhos sobre o divórcio, é essencial que você explique como isso afetará suas vidas em um nível prático. O que vai acontecer e quando? Questões como onde vão morar, quanto tempo vão passar com cada pai, se vão mudar de escola, atividades ou rotinas precisam ser abordadas.
Ter as respostas para esses tipos de perguntas antes da fala pode ser importante para transmitir clareza e estrutura e não deixá-los nadando em um mar de dúvidas e incertezas. Explique a eles que você levará em consideração a opinião deles sobre a divisão do tempo, mas que eles não precisam escolher ou se preocupar com isso.
Vocês adultos vão decidir. Além disso, eles devem saber que você fará todo o possível para não atrapalhar sua vida e seu cotidiano.
Veja: Divórcio por mútuo consentimento: tudo que você precisa saber
4. Garanta o amor incondicional
Se há uma mensagem importante a transmitir nesta situação, é o amor incondicional. Assegure às crianças que vocês dois as amam muito e que isso não vai mudar. Que elas continuarão contando com vocês dois para tudo que precisarem e que vocês estarão ao lado delas, mesmo que não morem mais juntos.
É possível que elas temam que, assim como o amor de um casal terminou, seu amor por elas também terminará. Portanto, é necessário reafirmar e garantir que elas continuarão recebendo amor, presença e apoio de ambos. Que vocês continuarão sendo os pais delas e que cooperarão para lhes dar o melhor.
5. Evite a culpa
Pode ser difícil para você entender, mas muitas crianças tendem a se culpar quando seus pais se divorciam. Elas assumem que isso aconteceu porque se comportaram mal, cometeram um erro, etc.
Por isso, mesmo que seus filhos não verbalizem, assegure-lhes que a decisão não tem nada a ver com eles, que eles são maravilhosos e que é uma questão dos adultos e do casal.
6. Permita a expressão emocional
Ao conversar com seus filhos sobre o divórcio, você pode ver reações mistas e inesperadas. Algumas crianças são muito afetadas, enquanto outras parecem totalmente despreocupadas.
Os mecanismos de defesa de cada um podem ser diferentes e isso não é uma notícia fácil de assimilar. Portanto, acima de tudo, seja paciente.
As crianças precisam ter permissão para expressar suas emoções, seja raiva, confusão, ou tristeza. Talvez elas precisem chorar, fazer perguntas ou deixar a conversa para depois. É importante respeitá-los e não reprimir seus sentimentos.
Também é positivo que vocês, como pais, expressem como a mudança os faz sentir. Isso não diminuirá sua autoridade. Pelo contrário, ser vulnerável ajudará seus filhos a verem que é natural ter e expressar emoções.
Você pode perguntar como eles se sentem e se há algo específico que eles precisam saber. Mas você também terá que prestar atenção à sua linguagem não verbal e suas expressões, porque pode ser difícil para eles verbalizá-la; especialmente nos pequenos.
7. Depois de conversar com seus filhos sobre o divórcio, faça um acompanhamento
Por fim, tenha em mente que esta conversa será apenas o começo, um primeiro contato com a mudança que está por vir. Seus filhos e adolescentes precisarão voltar ao assunto mais tarde, analisar questões que surgirem ou expressar suas emoções quando o aceitarem.
Comece novas conversas com o passar dos dias e meses. Esteja pronto para os espontâneos que possam surgir.
Em suma, conversar com as crianças sobre o divórcio não é fácil. Esta é uma situação confusa e dolorosa para todos.
No entanto, planejando essa fala com antecedência, mostrando uma frente unida e, acima de tudo, oferecendo amor e segurança às crianças, será uma situação mais fácil de passar. Este será apenas o começo, mas estabelecerá as bases para que elas entendam que nem o amor nem a família acabaram; eles apenas se transformarão.
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